sexta-feira, 18 de maio de 2012

Suicidio

"Quando um velho morre, é uma biblioteca que arde", disse, com verdade, Amadou Hampaté Ba. O Dimitris Christoulas não foi o primeiro suicida na Grécia, nem o último entre pessoas decentes, nos países a sul da Europa, como resultado da austeridade que nos tornou todos prisioneiros da dictadura da Troika e de governos fantoches e corruptos.

Quando um homem decide apagar a sua chama interior desta forma, ilustra de maneira abjecta a que ponto  tentaram responsabilizar as populações, negando a calamidade no quotidiano, como se o drama se circunscrevesse à salvaguarda única e exclusiva dos interesses bancários, e desde logo tolerável que as populações sofram as politicas dos governos Oligárquicos. Assim impuseram o desespero, como sentimento de normalidade.

Há algumas semanas perdi um amigo; o José Banha suicidou-se, por razões semelhantes às do Dimitris Christoulas.  Falar do meu amigo, é falar de um homem bom como o pão, é exteriorizar uma emoção que, por pessoal, não a torna menos universal. Foi daqueles que trabalhou, trabalhou, trabalhou...e digo: o meu amigo não se suicidou; na realidade foram aqueles filhos da puta que o mataram.

Os paspalhos que nos governam não falam dele; mas deveriam, e nós também! E podíamos acrescentar que somos todos gregos, e estes do mesmo modo, são todos portugueses. Há cada vez mais Dimitris e Josés Banhas, cada vez mais pessoas a não tolerar o intolerável. Contrariamente ao que nos querem fazer crer, isto não é, nem nunca foi, uma questão de contabilidade. Se 70% da massa monetária (fiduciária) encontra-se bloqueada nos cofres bancários, e 90 % da "dívida" são juros, então não preciso de saber muito mais para afirmar que a banca é culpada de tudo, e os governantes cúmplices activos: por exemplo se eu compro uma casa com empréstimo bancário, o vendedor ao receber o dinheiro da venda vai depositá-lo noutro banco, portanto ninguém fica privado do dinheiro anteriormente em circulação. Mas logo que um dos bancos perde confiança no outro banco quem vai sofrer as consequências é o Zé do Povo. E se algum desses bancos tiver dificuldades os governos estão cá para nos dizer para pagar mais impostos porque é necessário socorrer o pobre do banqueiro. É insano!

Na realidade, para "eles", a questão não se resume ao dinheiro, senão à capacidade de se apoderarem de tudo, empresas, casas, e do resto, até ficar-mos tão enfraquecidos que não mais poderemos protestar. Assim, quando o desespero bater à porta do vizinho, viramos a cara para o lado, e, se por engano bater à nossa, o vizinho fará a mesmíssima coisa, ambos esquecidos que a doença era contagiosa.

Mais uma palavra sobre o meu amigo: lendo os jornais, consultando as notícias "oficiais", não mais encontrei que uma constante teimosia em diluir, reduzir o drama de um suicídio a uma conjuntura, uma crise, referindo-se à "situação global do sector", á "divida do país", eventualmente "à necessidade de fazer algo", sem porém nunca apontarem o dedo aos responsáveis. Caramba! Além do mais são tão isentos de humanidade que nem percebem o intimo de uma tragédia, a catástrofe de uma família.
A comédia e a afectação insultam a base da inteligencia e do coração.

1 comentário:

  1. Amei o seu post..... Obrigado pela coragem de denunciar essa corja de malfeitores. O José Banha onde quer que esteja será eternamente grato.

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