quinta-feira, 24 de maio de 2012

Os verdadeiros responsáveis pela crise na Europa

O governos liderados por Berlusconi na Itália e Papandreou na Grécia caíram sem o voto de desconfiança dos respectivos parlamentos. E ambos primeiro ministros foram substituídos, sem eleições, por tecnocratas de um banco: o Goldman Sachs. Uma estranha forma de democracia. Não ficaram por aqui; o mesmo banco colocou o seu antigo director para as operações na Europa, o Sr. Mário Draghi, como director do Banco Central Europeu. Diabo! Então como acontecem estas coisas?

Na verdade, começa pela impunidade de que as oligarquias politicas gozam apesar de durante anos promoverem o empobrecimento do país e das pessoas.

O país que deu luz à democracia, aquele que estruturou todo o pensamento ocidental, é insultado pelos média ao serviço da grande finança, e nós, aos poucos, até começamos a acreditar.

A génese da ignomínia tem simplesmente a ver com a forma como a banca lidou com os empréstimos acordados ao estado. Começou em 2000 quando o banco Goldman Sachs ofereceu os seus serviços para maquilhar o défice das contas públicas, em troca de choruda remuneração, afim de fazer parecer que o país tinha contas equilibradas, e assim aceder aos fundos europeus. Entretanto o objectivo do banco é vender "Swaps", na forma de CDS (credit defaut swap) ao país. Do que se trata? Simplesmente de empréstimos contra reembolsos periódicos. Mas a taxa de juros fica indexada sobre a avaliação de risco financeiro que é determinado pelas agências de rating como a Standart and Poor. Portanto bastará a agência de rating considerar  o risco mais elevado para os juros subirem. Como os juros sobem, apesar do país continuar a honrar os pagamentos, torna-se mais interessante o negócio para os bancos que vão ganhando cada vez mais. É então que se torna mesmo apetitoso: o banco detentor da dívida vende a outros bancos, neste caso a bancos gregos a dívida do seu próprio governo, oferecendo ainda uma protecção (uma espécie de seguro contra os riscos de boa cobrança), e recebe parte dos juros pela protecção de risco. A agência de rating avalia então o risco como ainda maior, e a Goldman Sachs vende também a protecção de risco a outro banco. Como aconteceu em Portugal com o BPN, há que salvar o banco grego, e assim vão os contribuintes pagar. Quanto mais subirão os juros mais apetitoso se tornam os negócios, menos capacidade de honrar os compromissos por parte do país, piora o rating, e assim sucessivamente até à situação que hoje conhecemos.

São depois os mesmos banqueiros que vêem se apregoar salvadores do mundo, começando por colocar os seus boys, (já os iremos analisar mais adiante) nos lugares chave para poder impor as "necessárias" medidas de austeridade. Segue aqui uma pequena lista, infelizmente incompleta: Todo o dinheiro que se arrecadará irá directamente para os cofres da banca.

- redução do ordenado mínimo.
- supressão do 13 e 14 mês.
- aumento do IVA para 23%.
- aumento dos transportes públicos.
- aumentos dos combustíveis
- aumento dos impostos sobre tabaco.
- supressão do pagamento de horas extraordinárias.
- redução dos salários dos funcionários.
- venda de terrenos e edifícios públicos
- privatização de caminhos de ferro, distribuição de água e electricidade.
- titularização das receitas de lotaria
- redução do orçamento na saúde
- redução no orçamento para o ensino
 Também somos gregos, pois aplicaram a mesma receita a Portugal e à Espanha. A mesma! Não é  Estranho?

Em jeito de observação, a Standart and Poor acabou de comprar à Goldman Sachs o seu "Indice de mercadorias" por 60 biliões de Dólares. Ah, já me esquecia: a Standart and Poor pertence ao aglomerato de companhias Mcgraw-Hill, que tem na sua direcção conselheira a Senhora Barbara Bush. Ainda para a pequena informação, uma notícia que testemunha como estas agências trabalham: saiu na semana passada o relatório do Sub-Comité de Investigação do Senado norte americano responsabilizando a agência Moody's e a Standart and Poors, como estando na base da crise financeira de 2008, a maior desde a grande depressão. A actuação foi muito simples uma vez mais: A S.& P acordou com os bancos a atribuição do melhor ranking (AAA) a produtos de maior risco de crédito para que os bancos os pudessem vender aos fundos de pensões, sabendo que estes só compram produtos de ranking AAA. E agora centenas de páginas  e centenas de e-mails provam que estas duas agências fizeram exactamente isto, em concertação.

Vale a pena perder mais uns minutos para conhecer alguns dos boys da Goldman Sachs que promovem autênticos golpes de estado.
Mário Monti, nomeado, sem elecções, 1º ministro da Itália, conselheiro internacional da GS (Goldman Sachs), antigo Conselheiro Europeu, conselheiro Internacional da Coca Cola, administrador da Barilla center for food and nutrition, Ex administrador de Fiat, Ex administrador de Assigurazzioni Generali, Ex administrador de Banca Commerciale Italiana, Ex administrador de IBM Itália, etc. Ah, e membro da Comissão Trilateral, of course.

Lucas Papademos, nomeado, sem eleições, primeiro ministro da Grécia, foi governador do Banco Central Helénico, entre 1994 e 2002, e, a esse título,  participou na operação de encobrimento das contas públicas perpetrada pela G.S. Ah, e membro da Comissão Trilateral, naturalmente.

Paul Deighton, director geral do comité organizador dos Jogos Olímpicos 2012, 22 anos trabalhando na Goldman Sachs...

Por último, mas não menos importante, Mário Draghi, Presidente do Banco Central Europeu. Foi vice presidente da GS para a Europa entre 2002 e 2005. Uma das suas missões era vender o produto financeiro "swap", a países soberanos permitindo a dissimulação de parte das dívidas de estado. (soberanas). Agora como supremo banqueiro da Europa, imagine-se como o BCE vai intervir no apoio financeiro aos estados. Passa-se assim: o BCE manda o dinheiro para os bancos do país, e estes o "entregam ao estado", cobrando uma comissão. Pois é isso mesmo: os bancos continuam a ganhar, mesmo nestas circunstancias. Imoral? Certamente! Ah, adivinhe... Acertou! Sim, o senhor é membro da Comissão Trilateral.

Pouparei ao leitor a extensa lista de todos os GS boys que ocupam cargos importantes na vida pública Europeia. Contra a Goldman Sachs correm vários processos legais, nomeadamente a chamada "subprime crisis" nos Estados Unidos e na Europa, além da forte suspeita de fraude na Europa, claramente ligada ao desastre financeiro grego. Mas a Europa encontra-se agora com estes senhores ocupando lugares extremamente importantes a nível de governos e no Banco Central Europeu. Como é possível que os outros políticos não questionem quanto ao conflito de interesses?  Como é possível a Goldman Sachs ter acesso legal aos mais altos níveis de Estados e da União Europeia? Por demais estes boys não chegaram de mansinho, mas sim com todos os dentes fora, rosnando austeridade, austeridade, austeridade...

Verificou-se na Grécia, em Espanha e Portugal que para a aplicação das medidas de austeridade, as oligarquias financeiras estão dispostas a recorrer à repressão policial, apesar da má imagem que isso transmite. Assim iniciaram desde há meses uma luta ideológica com a colaboração da imprensa "profissional", a mesma que ainda há bem pouco tempo não se cansava em denunciar a submissão dos poderes públicos à ditadura quer dos bancos, quer das agências de ranking. Progressivamente passaram a usar aquelas "frases de choque", colocaram debates entre "especialistas", controversas entre jornalistas, em suma um grande circo para propagandear a crise. A imprensa tornou-se a correia de transmissão das posições defendidas pelos adeptos de uma austeridade implacável. As redações dos média começaram a considerar a crise como a solução para desinfectar as finanças públicas. A campanha levada a cabo pelos banqueiros conta ainda com a ajuda de "economistas consagrados"que nos orientam entre retórica e urgência para a mesma desinformação. Esta desinformação, porém, não poderia frutificar sem  a cumplicidade, consciente ou não, dos jornalistas, numa atitude que pouco ou nada tem a ver com a neutralidade que tanto proclamam. Assim, contribuem fortemente para que os parlamentos e os governos se tornem as melhores sucursais do sistema bancário.

Os desvios que trazem opressão deverão ser contestados e eventualmente combatidos por TODOS os meios, em nome do direito natural à resistência do povo para se opor à manifestação de poderes violentamente arbitrários; assistimos a uma tirania financeira, politica e social, intimamente ligada à arrogância e ao excesso. Disse TIRANIA! Tirania, etimologicamente, significa, em grego, "poder ilegítimo" Quanto aos políticos, ainda que eleitos, provêm de uma oligarquia; conhecemo-los também pela insolência donde brota, sem sombra de dúvidas, uma forma de tirania imposta pelo enfraquecimento moral dos governantes que promovem a desconfiança e o empobrecimento dos cidadãos.









2 comentários:

  1. Mais uma Fantástica investigação.... Simplesmente genial.

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  2. Obrigado pela benevolência.
    Como vimos, contráriamente à que televisão e jornais nos dizem, a crise não decorre tanto da impossibilidade de financiar o excesso do défice orçamental, no seguimento de algum laxismo durante um certo tempo, senão da renovação ou o refinanciamento no termo da divida, e logo como as agencias de rating e a banca especulam sobre o país.
    A questão é de saber se estes governantes saberão ouvir o povo, ou se teremos de lhes puxar as orelhas para melhor lhes gritar juntinho aos ouvidos.

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