terça-feira, 15 de maio de 2012

Jogos Olímpicos e mobilização militar

Nunca, desde a segunda guerra mundial, tamanha capacidade bélica se tinha concentrado em Londres; os meios são simplesmente impressionantes:

- 13 500 militares mobilizados; isto é um número superior ao contingente que serve actualmente no
   Afganistão. (9 500)
- O número de seguranças contratados: 23 700 homens.
- Forças policiais nacionais, Scotland Yard, SAS, MI5,
   UKSF, forças especiais de intervenção rápida,
   todos os serviços de segurança e vigilância
   mobilizados.

- Jactos rápidos, (caças) e helicopteros patrulharão os céus de Londres.
- O maior navio de guerra britânico, o HMS Ocean, ficará atracado no
   Tamisa, servindo como porta helicópteros.
- Um Boeing E30 AWACS, patrulhará os céus.
- Baterias anti-aérias equipadas com misseis terra-ar instaladas em
   telhados de zonas habitacionais.

O total das medidas excepcionais de segurança com custos estimados em 1.2 ml milhões de Euros.

Surpreendente, extravagante, inexplicável, toda esta panóplia adicional, na cidade reputada a melhor e mais defendida do mundo contra ataques exteriores. Se, no passado recente, Londres sofreu actos de terrorismo, foi a partir do interior, por terroristas que simplesmente transportaram engenhos explosivos em mochilas. Ora não é certamente com meios aéreos, misseis terra-ar, e gigantescos navios de guerra que se previne este género de terrorismo; a desproporção de meios corresponde a pretender matar um rato com tiros de canhão.

A cidade habituou-se a acolher importantes concentrações dos mais proéminentes dirigentes mundiais, por exemplo aquando do recente casamento do príncipe William, sem que porém os meios aéreos, navais e balísticos fossem accionados, nem a fobia do terrorismo atingisse o paroxismo a que se assiste. Naturalmente, nessas ocasiões ninguém esperaria um ataque aéreo ou naval contra Londres. Mas então porque o estariam agora a considerar? O que é que escondem?

Que presságio ou conhecimento justificam a quantificação e os meios, senão a previsão de uma contingencia tão calamitosa que não poderiam partilhar a informação?  Ou trata-se meramente de expor ao mundo o poder belicista do país, e simultâneamente mostrar á sua população que a Inglaterra continua sendo uma grande potencia militar? Assim, os britânicos acabariam substituindo a circunspecção pelo grotesco. Em qualquer dos casos estes J.O. colocam-se nas antípodes do espírito Olímpico de Pierre de Coubertin. Do espírito e da letra; veja-se a letra do tema musical escolhido para a abertura oficial dos Jogos:

"LONDON CALLING"
"Londres chama as cidades distantes
Agora a guerra está declarada, e a batalha começa
Londres chama o submundo
Saiam do armário rapazes e garotas
Londres chama, agora não nos olhem
A farsa da beatmania comeu poeira
Londres, vejam que não oscilamos
Aceita a coisa pelo toque

Coro
A era do gelo está chegando, o sol está sumindo
Degelo esperado, o trigo cresce fino
As máquinas param, mas não tenhas medo
Porque Londres está afogando, e eu vivo junto ao rio

Londres chama para a zona de imitação
Esquece irmão, podes ir lá sozinho
Londres está chamando os zombis da morte
Deixa de te agarrar, dá mais um suspiro
Londres chama, e eu não quero gritar
Mas enquanto falamos, vejo-te acenar de cabeça fora
Londres chama, vê não temos superioridade
Excepto aquela de olhos amarelados

Coro

Agora pega isto

Londres chama, sim eu também esta lá
E sabes o que eles disseram? Bem em parte era verdade
Londres chama, para o topo do relógio
Depois disto, não me dás um sorriso
Londres chama

Nunca me senti tão igual, tão igual, tão igual..."

 Ambivalências extremas, numa capital de zombis, chamando ao pesadelo, numa atmosfera apocalíptica. A meu ver, no que toca ao espírito olímpico esta letra é profundamente consternante, embora bem adaptada ao carácter grotesco anteriormente relatado. Não posso deixar de associar a letra do tema escolhido com as medidas de segurança tomadas, como se a soma de ambas resultasse numa profecia tão iminente quanto dramática.

Assim fala-se das medidas de segurança, da fobia do terrorismo, dos custos, de teorias da conspiração, e de mil e uma coisa relativas a estes J.O., não deixando de surpreender o pouco que se comenta relativamente à parte desportiva, e confraternizadora do evento. É como se o essencial tivesse sido banido destes Jogos. Tudo está preparado para o "Grande Evento", seja lá o que isso significa. À vista de tudo isto imagino que se o Pierre de Coubertin pudesse se levantar de entre os defuntos, preferiria ficar onde está do que presenciar esta demência.


Finalmente, apesar de tentarem lhes retirar o conteúdo, os Jogos Olímpicos comportam ritos próprios; no dia dez de Maio, frente ao Templo de Hera, construído há mais de dois mil e seiscentos anos no Monte Olimpo, uma senhora vestida de Sacerdotisa usou um espelho côncavo para concentrar os raios solares que acenderam a tocha Olímpica. Apesar do que estão fazendo à Grécia e aos gregos, naquele dia não houve nuvens no horizonte.



Esperemos que dia vinte sete de Julho, quando começarem os jogos, as trevas tão pouco se aproximem de Londres, e do mundo.



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