terça-feira, 27 de março de 2012

Desvendando Dogmas


Todas as organizações humanas exigem o cumprimento de um conjunto de regras não escritas como um elo ausente da corrente. Quem fizer parte de uma organização é suposto conhecê-las; frequentemente a sua obediência ultrapassa em importância as regras mais explicitas e que se advogam repetidamente. Então porque existem regras "não escritas", para que, e a quem servem?

A garantia de sobrevivência de uma organização supõe desde logo um código escrito, em termos ideológicos filosóficos ou outros, claramente exposto, com o qual o aderente se identifica e subscreve. Algumas dessas regras também servem para proteger a própria "associação" de outras que lhe sejam concorrentes, entre partidos políticos por exemplo, ou simplesmente do mundo exterior, como no caso de organizações secretas.

Nos partidos políticos, promoção interna dos militantes encontra-se legitimada por estatutos democráticos, na medida em que é submetida ao voto. Em consequência o acesso a um lugar de destaque dentro do partido supõe também um "estágio de militantismo" obrigatório. Mas não é assim; na realidade basta o chefe convidar um amigo a integrar o partido, outorgar-lhe um lugar e fazê-lo saber. Um partido politico tem, por natureza, vocação de poder. A noção de poder é tão forte que impregna e condiciona toda a convivência partidária obediente a uma estrutura piramidal, em que as bases normalmente se limitam a "repetir estupidamente" o discurso da cúpula. A essa regra não escrita se chama "boas práticas", ou "confiança politica". A não observância das "boas práticas" é bem pior que um desviu ideológico, ou um desacordo com tal ou tal outra decisão do líder, acarretando para o infractor a perda de influencia ou a esperança de ascensão a qualquer cargo. O essencial é não tornar pública qualquer dúvida relativamente ao que o "chefe" opinou. Só há um caso em que isso pode ocorrer: quando há uma luta pela liderança dentro do partido.

Nas organizações secretas, como é o caso da maçonaria, as regras escritas consubstanciam o ritual, cujo significado o iniciado é convidado a ir descobrindo ao longo da sua aprendizagem. Chamam-se irmãos, independentemente do grau a que ascenderam, e tal como nos partidos as pessoas se tratam por tu; porém a primeira determinação relativamente ao "neófito" é que este nada sabe: é como uma criança acabada de nascer e nenhuma imposição, palavra ou opinião do mestre é discutível ou susceptível de ser posta em causa, sob nenhum pretexto. O iniciado é convidado a jurar que nada do que ali viu, ou ouviu, será divulgado para o exterior, sendo esse juramento renovado em cada cerimônia. Como em todas as organizações humanas diversos temperamentos, distintas formas de encarar os assuntos, em suma pessoas diferentes umas das outras, convivem num espaço onde fatalmente haverá desacordos, e por vezes até inimizades. Mas continuam chamando-se "irmãos".

Se porventura acontece um problema a um irmão, os outros são supostos socorrê-lo, porque são "irmãos". Na realidade, se este mesmo irmão teve algum diferendo com um irmão mais poderoso, mais influente, haverá que o pôr a andar dali. Se um irmão de grau mais baixo se demarcar pela capacidade intelectual, trata-se de o despreciar e tentar lhe esterilizar o pensamento, inscrevendo-o desde logo numa cronica de morte anunciada. Por conformismo, inercia ou cobardia, não haverá solidariedade de ninguém; a regra não escrita é simples: guardemos o nosso entre nós, e o iniciado que não o entenda assim só tem uma coisa a fazer: ir-se. Ou esperar que o empurrem.

Quando se adere a uma qualquer organização, imbuí-se de ingenuidade, e exclama-se: "finalmente, estou entre os meus!". Recebidos de abraços abertos, confraternizando, debatendo, partilhando idéias, ah, como nos enganamos a nós próprios. Como nos desiludimos com as organizações, por mais humanitárias que pareçam, por mais altos os ideais que proclamem; mas a decepção morre sem culpa a não ser a do próprio decepcionado, porque insistiu em acreditar.





4 comentários:

  1. Sem dúvida esse comentário partiu de alguém que; a princípio, se encantou com o que lhe foi apresentado, mas depois se desiludiu com a realidade.... afinal, nem tudo é claro, ou definido, como o pavimento mosaico, ou as colunas vestibulares....

    Mas como acreditamos - e me incluo - que nada é por acaso, creio que o futuro nos reserva respostas para as incompreensões.

    Fique na luz; busque sabedoria; pratique a paz.'.

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    1. Obrigado pelo comentário!
      Sem dúvida, "esse comentário partiu" do autor do blog! Talvez encanto e desilusão sejam os antónimos imprescindiveis para permanecer na luz, buscar sabedoria, e construir a paz. Mas como obviar que o conhecimento dos símbolos, sem a prática dos mesmos, os reduz a formalismos, sacrificando o espírito?
      Abraços.

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  2. Obrigado Toaky pela gentileza do convite. Terei o maior prazer!

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  3. Obrigado pelo comentário!
    Sem dúvida, "esse comentário partiu" do autor do blog! Talvez encanto e desilusão sejam os antónimos imprescindiveis para permanecer na luz, buscar sabedoria, e construir a paz. Mas como obviar que o conhecimento dos símbolos, sem a prática dos mesmos, os reduz a formalismos, sacrificando o espírito?
    Abraços.

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