quarta-feira, 7 de março de 2012

O CALENDÁRIO DOS POETAS




Desde sempre o homem tentou definir, medir, nomear, domesticar o tempo, com o objectivo de torná-lo mais familiar.

 Os fantasiosos calendários ocidentais, (não falaremos dos Mayas) permaneciam tão defeituosos quanto dependentes de vontades politicas, religiosas ou outras; assim o mês de Outubro,  por exemplo, podia perfeitamente se prolongar até à primavera, ou calhar em pleno inverno se tal fosse o desejo do manda chuva do momento.
Também acarretava uma série de dissabores aos cobradores de impostos pela impossibilidade de cobrança em data fixa.                                                                                                       

Imaginem a colecta que se perdia, e aquela que apenas se cobraria pelas calendas gregas.
 Até que Júlio César, cansado de tanta confusão, pediu a um cientista grego (grego, sim, pois o Júlio tinha sentido de humor) para refazer o calendário. O cientista grego mediu o curso da terra em volta do sol, dividiu por doze e depois bastou atribuir nomes de Deuses romanos aos meses. O Senado honrou então o famoso Imperador, dando o seu nome a um dos meses; Julho, com trinta e um dias. Mais tarde, certo Augusto, Imperador de profissão, não querendo ficar atrás do seu ilustre predecessor, também exigiu um mês com o seu nome, e, claro está, sem um dia menos que o César.

Sacrificou-se assim o mês de Fevereiro, e nos quedamos por aqui durante dois mil anos.

Concretamente, vou propor-vos um novo calendário sem Imperadores nem Deuses romanos.

Sugiro:

  • Para os meses....................................nomes de poetas e escritores
  • Para os feriados.................................nomes de grandes obras
  • Para os dias santos............................nomes daqueles que justificam a nossa memória. (Molière, Homero, Dante, Goethe, Cervantes, Shakespeare, Fernando Pessoa, Lorca, La Mistral, Vallejo, Saramago, Vinicius de Moraes, Neruda,, ...não fecho as parênteses. 
  • Para os dias de semana, nomes de criadores atuais, amovíveis por morte.
  • Do mesmo modo que o Júlio César teve o seu mês, proponho ainda o nome da primeira pessoa que subscreva a esta ideia para o primeiro dia da semana laboral. (atual segunda feira).                                                     

Confesso a minha inconsciência quanto ao absurdo deste repto! Permitam-me justificar.

- O criadores não se satisfazem com dias numeráveis e anos bissextos.
- Os poetas e escritores poderão assim dispor de datas adequadas à escrita dos seus sonhos, porque
   passam a dispor de "tempo próprio".
- As emoções deixam de se assimilar ás cebolas, quando se têm de comprimir os olhos para não chorar;
   haverá dias de emoção oficiais.

Parece-me que um calendário com nomes de Deuses de outros tempos deixou de fazer sentido. Portanto, façamos como os romanos: prestemos homenagem aos nossos.

Agora!

Não esperemos que eles morram.

Salvador Dalì: A Persistência da Memória 

2 comentários:

  1. Alongando o seu parênteses: algumas vozes femininas transformadoras do nosso Universo: Emily Dickinson,Sylvia Plaht, Alfonsina Storni, Juana de América, Fina García Marruz, Sophia de Mello Bryner, Toni Morrisson, Virginia Woolf, Colette, Margaritte Yourcenar.....

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    1. Absolutamente de acordo! Deixaríamos esses poetas sem companhia feminina?

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