sexta-feira, 23 de março de 2012

O Cachimbo de Espuma e o Rouxinol

A primavera chegou para nos recordar o renascer de todas as coisas, e quiçá relembrar alguns daqueles poemas de adolescência. Aqui ficam doces memórias:

                                                    A Balada de Hans e Jenny

Verdadeiramente, nunca  foi tão claro o amor, como quando Hans Christian Andersen amou a Jenny Lind, o Rouxinol de Suécia.
Hans e Jenny eram sonhadores e belos e o seu amor partilhavam-no como dois colegiais partilham as suas amêndoas.
Amar Jenny era como ir comendo uma maçã debaixo da chuva. Era estar no campo e descobrir que hoje amanheceram maduras as cerejas.
Hans costumava contar-lhe fantásticas histórias do tempo em que os blocos de gelo eram os grandes ursos do mar. E quando chegava a primavera ele cobria-lhe com silvestres tussilagos as tranças.
O olhar de Jenny povoava de dominicais cores a paisagem.
Bem poderia Jenny Lind ter nascido numa caixa de aguarelas.
Hans tinha uma caixa de musica no coração e um cachimbo de espuma do mar que a Jenny lhe dera.
Por vezes os dois saiam de viagem por rumos distintos. Mas continuavam amando-se no encontro das coisas miúdas da terra.
Por exemplo, Hans reconhecia e amava Jenny na transparência das fontes e no olhar dos meninos e nas folhas secas.
Jenny reconhecia e amava Hans nas barbas dos mendigos, no perfume do pão tenro e nas mais humildes moedas.
Porque o amor de Hans e Jenny era intimo e doce como o primeiro dia de inverno na escola. Jenny cantava as antigas baladas nórdicas com infinita tristeza. Uma vez ouviram-na uns estudantes americanos, e pela noite todos choraram de ternura sobre o mapa da Suécia.
E é que quando Jenny cantava, era o amor de Hans o que cantava com ela.
Uma vez fez Hans uma longa viagem e aos cinco ano esteve de volta.
E foi ver a sua Jenny e a encontrou sentada, mãos juntas, na atitude tranquila de uma rapariga cega.
Jenny estava casada e tinha dois meninos simplesmente belos como ela.
Mas Hans seguiu amando-a até à morte, no seu cachimbo de espuma, e na chegada do outono e na cor das framboesas.
E seguiu Jenny amando a Hans nos olhos dos mendigos e nas mais humildes moedas.
Porque verdadeiramente, nunca foi tão claro o amor como quando Hans Christian Andersen amou a Jenny Lind, o rouxinol de Suécia.

Aquiles Nazoa
Poeta Venezuelano
(Tradução livre do Blog)

1 comentário:

  1. Uma historia de amor que a sua vez tem inspirado distintos artistas... adolescência significa frustração ou a eternidade do sonho?

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