quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulheres de Pluma

Para mulheres que saibam voar!



Marc Chagall: "Os amantes voadores

                                       
Um poema de Oliverio Girondo, poeta argentino
                                                    
"Não sei se me importa um pito".


Me importa pouco que as mulheres
tenham os seios como magnólias ou como passas de figo;
uma tez de pêssego ou de papel de lixa.
Dou uma importância igual a zero,
ao facto de que amanheçam com um hálito afrodisíaco
ou com um hálito insecticida.
Sou perfeitamente capaz de lhes suportar
um nariz que sacaria o primeiro premio
numa exposição de cenouras;
Mas isso sim! - nisto sou irredutível - não lhes perdoou,
sob nenhum pretexto, que não saibam voar.
Se não souberem voar perdem o tempo as que pretendam me seduzir!
Foi essa - e não outra - a razão para que me apaixonasse
tão loucamente, de Maria Luisa.
Que me importavam os seus lábios por entregas e seus anseios sulfurosos?
Que me importavam as suas extremidades de palmípede?
E os seus olhares de prognóstico reservado?
Maria Luisa era uma verdadeira pena!
Desde o a amanhecer voava do quarto á cozinha, 
voava da sala de jantar à despensa.
Voando me preparava o banho, a camisa.
Voando fazia compras, seus afazeres...
Com que impaciência eu esperava que voltasse, voando,
de algum passeio pelos arredores!
Ali ao longe, perdido entre as nuvens, um pontinho rosado.
Maria Luisa! Maria Luisa!... e em poucos segundos, 
já me abraçava com suas pernas de pluma,
para levar-me, voando a qualquer parte.
Durante quilômetros de silencio planeávamos uma caricia
que nos aproximava do paraíso;
Durante horas inteiras nos aninhávamos numa nuvem,
como dois anjos, e de repente,
em caracol, em folha morta,
a aterrissagem forçada de um espasmo.
Que delicia ter uma mulher tão leve...,
embora nos faça ver, de vez em quando, as estrelas!
Que voluptuosidade a de passar-se os dias entre as nuvens...
de passar-se as noites num único voo!
Depois de conhecer uma mulher etérea, 
pode oferecer-nos alguma classe de atrativos uma mulher terrestre?
Verdade que não há diferença substancial
entre viver com uma vaca ou com uma mulher
que tenha as nádegas a setenta e oito centímetros do chão?
Eu, pelo menos, sou incapaz de compreender
a sedução de uma mulher pedestre, 
e por mais empenho que ponha em concebê-lo, 
não me é possível nem sequer imaginar
que se possa fazer amor sem ser voando.


(tradução livre do blog)


  

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