quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O PRINCIPIO E O FIM






(Interpretando F. Pessoa)

A realidade confunde-se com a necessidade espiritual; o poder espiritual confunde-se com as arbitraridades humanas; os humanos tentam salvarse e confundem o principio e o fim.

Existimos?

Existe a bússula, o pergaminho e a dor: “A dor de não ser nada, não querer ser nada, não poder ser nada...”.

Existe a inconformidade de passarmos desapercibidos. Existe o Mar onde dorme o Mostrengo e o Mar imenso que recorta a geografía onde se pousa uma lanterna: “e, além disso, contenho em mim todos os sonhos do mundo”.

Existe o V Imperio?

Existe a palavra, a porta que esconde a palavra, os dentes que se escondem por detrás da palavra. Existe “a voz de Deus no fundo dum poço” e existe “um lenço branco com o qual digo adeus aos meus versos que partem para humanidade”

Existimos á medida que construimos uma passagem que una o princípio e o fim, uma passagem que harmonize as pretensões de eternidade com as arrogancias civilizacionais. Existimos infinitamente com o tempo quando formos acompanhados pelo Imperio do Renascimento Cultural.

                      Mas Portugal, hoje é nevoeiro...

  O V império não pode ser uma espécie de sorte grande destinada a salvar Portugal e a portugalidade de todos os marasmos e maleitas sofridos pela má sorte e o fado que carregamos.

Essa sorte grande surgindo na forma uma súbita dominação politica económica e militar tornando-nos num imenso Portugal (segundo determinados profetas)...
A morte de Don Sebastião e a louca esperança do ressurgimento do rei salvador traduzem o lirismo desesperado de uma nação outrora poderosa cuja decandencia contraria as glórias tão retradas por Camões e substancialmente por Fernando Pessoa.

Os estados e as nações se encontram em interdependencia global. Frequentemente numa dependencia humiliante que leva o humiliado a reclamar da falta de solidariedade internacional. Alguns paises proclamando-se livres e autonomos consideram insuficiente a ajuda de outras nações, donde resulta uma ambiguidade inquietante. As antigas e claras fronteiras, imagem da soberania clássica não podem ser um embaraço para a concertação em plataformas formais como a NATO, a UE, a MERCOSUL a Asean, admitindo um novo poder politico residual, uma espécie de soberania de serviço mais vinculada ao interesse comum, e menos exclusivista

O “nosso quinto império” será o da cultura e da razão, porque a  história se decide á margem de circunstancialismos e intenções politicas.


 Poema de Fernando Pessoa "Mensagens"

QUINTO / NEVOEIRO 
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!

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