sábado, 11 de fevereiro de 2012

Carta para o Miguelito



Caro Migue,

O correio que segue não pretende refletir momentos de duvidosa inspiração, estados etílicos avançados nem outras merdas estranhas.
Acontece que a minha "Bruxinha" fica trabalhando hoje até á meia noite, e como os dedos se me impacientam, aproveito para te escrever.
Esta manhã, ao abalar para o trabalho, pedi-lhe para me dizer uma palavra mágica. Pois não disse! Porque não tinha tempo, que me tinha dito ontem, em suma me ofereceu indiferença. Bem sei que todas as interpretações são unilaterais, limitam os olhos do espirito, contribuem para o afastamento. Porém esta noite imagino que ela me inventará uma palavra, falará das cores da sua memória, do tempo malva das coisas, da terra onde cresceu como uma arvore prisioneira que embora necessitando das suas raízes não renuncia, porque gente não é arvore. E eu a escutarei, sabendo como ninguém jamais leu um livro que eu tenha lido, nunca alguém a terá ouvido falar do modo que a oiço.
Então a palavra mágica recusada se converterá em alegria numa larga frase com imenso sorriso.
Esta noite meu amigo, esta noite a escutarei viver!
Driiiing, driiiing....
-" Bolas!...Despertador d'uma figa! Já?..."
Driiiiiiiiiiiing.....
- "Nem oiço, nem quero,. Não estou!...."
Ontem, ela me inventou palavras e luzes lhe cintilaram nos olhos. Depois, aproveitei para a olhar melhor enquanto dormia. Temos a noite para viajar...
Ah, como me custa, mas lá me levanto, tomamos um café, beijo, e abalo para o Alentejo.
Como não conheces Portugal, aqui segue uma pequena descrição do périplo:
O Alentejo fica separado do Algarve por uma pequena cordilheira montanhosa, o que, entre outras coisas, confere descontinuidade ao caminho. Passada a montanha vejo uma placa na estrada: "Mértola 48 Km".
Continuando por 14 Km, outra placa me indica: "Mértola 46 Km" ! As distancias são um pouco Einstenianas e muito relativas por aqui. É um país destinto! A manutenção das telecomunicações é feito pelas cegonhas que elegem o topo dos postos para nidificar. As outras cegonhas não trabalham, são turistas.(ver foto 012) Quando alguma se torna preguiçosa um falcão a substitui no trabalho e no ninho. (ver foto 011)
Não vi nenhum pequeno príncipe, mas suspeito que aqui se escondem zorras e serpentes...
Chegando finalmente a Mértola, um imponente castelo medieval e um cliente muito sério me serenam o espirito. Segue uma reunião de trabalho sob um céu azul cotonado de brancos e um ar transparente que não durará muito tempo. Pouco passa até que me convide a dar um passeio pela propriedade. No seu ponto mais alto, um menir. Aos seus pés uma minuscula ribeira com uma ponte de madeira sustida por um grande mistério e dois paus retorcidos. Há coisas inexplicáveis...
Falei da viajem repartindo-a em pedacinhos para a puder partilhar contigo, mas do mesmo modo que não posso descrever o deserto a partir de um grão de areia, este relato do Alentejo permanecerá infiel e incompleto.
Cinco horas.
É o regresso.
Pelas sete, em Quarteira, uma "Bruxinha" me espera...(?)...com a vassoura.

Un abraço






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